domingo, julho 19, 2009

Almada: Farol centenário volta a Cacilhas

Cacilhas, Almada, 19 Jul (Lusa) - O antigo farol de Cacilhas, que esteve junto ao cais fluvial entre 1885 e 1978, voltou a casa depois de restaurado e foi recebido, no sábado, ao som da Banda da Armada, por centenas de cacilhenses saudosos.
Edgar Casaca, de 69 anos, é “o último faroleiro” deste farol com 12m de altura e 1,70m de diâmetro que foi o centro da festa. “Trabalhei aqui de 1968 até 1978 e fui eu que assinei as guias de marcha para as obras de reconstrução quando o farol foi extinto por estar obsoleto e porque ia ser construído o novo Terminal de Passageiros de Cacilhas”, conta.
Antes disso, garante, “estava lá todos os dias”. “Até a minha mulher chegou a tomar conta do farol para me ajudar, quando quis completar os estudos”, sorri.
Edgar tinha a seu cargo “a manutenção dos equipamentos, a assistência técnica, tratava das luzes para navegação aérea na ponte sobre o Tejo, e dos sinais sonoros para navegação marítima”.
“Com o tempo”, explica, “deixou de fazer sentido ter ali o farol porque a sua função era dar coordenadas para que os navios fundeassem no Mar da Palha e havia cada vez menos embarcações desse tipo.”
O faroleiro garante que “do ponto de vista afectivo, o farol dizia muito às pessoas” e considera que “trazê-lo de volta é muito importante para que as relações entre gerações de aproximem”. “Ver o farol de novo em Cacilhas é como ver um neto a olhar para um avô. É bonito ver as pessoas respeitarem a história”, afirma.
Em 1978 o farol, que estava em Cacilhas desde Dezembro de 1885, foi desmantelado e seguiu para a Ponta do Queimado, na freguesia da Serreta, na ilha Terceira, Açores. Agora, e na sequência de um protocolo entre a Marinha e o Município de Almada, que investiu neste projecto 40 mil euros, o farol volta a poder espreitar o Tejo, na ponta de Cacilhas.
“A luz não encandeia, não vai coordenar o tráfego fluvial, mas vai apontar futuros para a cidade - um futuro de modernidade que respeita o passado”, afirmou o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Almada, António Matos.
A presidente da Câmara Municipal de Almada, Maria Emília de Sousa, sublinhou que “este farol mostra que é possível muito mais futuro na nossa terra”. “O esforço de recolocação do farol na freguesia mostra que Almada é um concelho com muito amor à sua história e ao seu património”, acrescentou.
Para Maria Emília de Sousa, “a gente que se concentrou em Cacilhas para assistir à cerimónia ilustra bem o que o farol representa para quem vive esta cidade”. Maria Salete Guerreiro, de 58 anos, esteve a ouvir o concerto da Banda da Armada com o seu neto pela mão.
“Há quase 40 anos trazia os meus filhos a passear ao farol. Hoje trago o meu neto para que ele saiba contar a história aos seus”, contou. Na opinião de Maria, “o farol nunca devia ter saído daqui. Sem ele Cacilhas não estava completa”.
Para Manuel André, autarca do PS, “o regresso do farol a Cacilhas ultrapassa a política, é uma questão que toca o coração dos cacilhenses”. “Guiou muitos pescadores, evitou muitos acidentes, é história, património e sentimento”, garante.
A cerimónia, que trouxe ao cais fluvial de Cacilhas centenas de pessoas, foi presidida pelo chefe do Estado-Maior da Armada, Fernando de Melo Gomes, e pela presidente da Câmara Municipal de Almada, Maria Emília de Sousa.
JYF - Lusa/fim